O Hotel Miguel Pereira localiza-se no bairro chamado Vila Suíça. Este nome deve-se ao engenheiro suíço Dr. João Alberto Masô, que veio para a cidade do Rio de Janeiro, na época Distrito Federal a convite do também engenheiro Dr. André Gustavo Paulo de Frontin. Foi de responsabilidade do engenheiro Masô o minucioso e bem delineado trabalho para o entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. O Dr. Paulo de Frontin ficou tão entusiasmado com sua eficiência e rapidez que decidiu dar-lhe novas e importantes incumbências dentro da cidade do Rio de Janeiro.
Ao fim dos anos noventa do séc. XIX, Dr. Paulo de Frontin e outros engenheiros começaram as obras para implantação da Linha Auxiliar da Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil, que por determinação do Imperador D. Pedro II, haviam sido iniciadas na década anterior para ligar Belém (atual Japeri) a Paraíba do Sul através do vale do Rio Santana, que irriga a região de Miguel Pereira.
Embora os serviços da ferrovia já se encontrassem em bom andamento, havia um entrave quase insolúvel para a época: a construção de um viaduto ferroviário no local chamado de Vera Cruz, a meio caminho da vila de Portela e a baixada do rio Santana.
Tudo levava a crer que as obras para construção do viaduto seriam paralisadas e o cronograma da obra interrompido, pois as projeções e cálculos matemáticos para ângulos e curvaturas da grande ponte a ser construída não conseguiam se adaptar ao projeto original.
Nenhum engenheiro se arriscou a apresentar novos cálculos por acreditarem ser uma empreitada extremamente difícil. O próprio Dr. Paulo de Frontin, um dos maiores engenheiros do Brasil não descobria o ponto correto de compatibilização matemática na planta do viaduto. Foi então que lembrou-se daquele jovem suíço que mostrou tanta competência em seus trabalhos realizados no Rio de Janeiro. Ao ser convidado para efetuação do trabalho de construção na serra interiorana, o Dr. Masô imediatamente aceitou o trabalho, partiu para enfrentar o novo desafio e conhecer as montanhas do Tinguá, junto com o amigo Frontin, do qual o Dr. Masô considerava-se modestamente também um operário subordinado.
Mais breve do que se esperava, Dr. João Alberto Masô descobriu um incrível erro de dois metros na área de curvatura de um dos esteios de ferro que sustentavam a lateral esquerda da grande ponte. Isto, graças à sua imensa dedicação ao trabalho pois não abandonou a mesa de cálculos por dias consecutivos, até descobrir o erro.
Ao término da construção do viaduto, a obra de engenharia foi considerada absolutamente perfeita.
Logo todos os cálculos, plantas, croquis, devidamente corrigidos e refeitos foram enviados para a Bélgica, de onde viria já pronta toda a estrutura metálica do viaduto em forma de módulos ajustáveis.
Até os dias de hoje, no viaduto ferroviário, hoje denominado Dr. Paulo de Frontin, não existem rachaduras, fadiga de material, desvios tensionais ou mesmo uma esperada oxidação das juntas, metais e arrebites, cento e três anos depois. É a única ponte metálica do mundo em curva, com oitenta e dois metros de comprimento e a trinta e quatro metros acima do Rio Santana, local onde ocorrem enchentes e vendavais inesperados e violentos, que teoricamente poderiam comprometer a estrutura do viaduto.
Aconteceu um dia a visita do médico português Dr. Antônio Botelho Peralta, que desceu a serra de Javary para visitar os alojamentos do já famoso Masô na parada de Conrado; logo estabeleceu - se uma profunda amizade, pois tinham muitos pontos em comum: ambos tinham pousado na Serra do Tinguá em prol de seu desenvolvimento, e o prazer que tinham em comum pelo trabalho, o amor pelas montanhas, a alegria de vencer barreiras impostas pelo interior de um país imenso e pouco conhecido, o sangue europeu, e principalmente as lembranças da cultura européia, milenar, deixada para trás em troca dos desafios de uma nova existência.
O Dr. Peralta mortificou-se com as precárias condições de vida e trabalho do amigo: um apartamento espartano, de mínimas dimensões, lençóis amarfanhados, marmitas pouco confiáveis, insetos famintos e lampiões enegrecidos.
Convencido por Peralta, Masô veio hospedar-se nas confortáveis instalações da Fazenda Pantanal, de propriedade do Dr. Peralta, servindo-se de seus carros para diariamente descer até as obras da estação da Estiva, onde embarcava na “Maria Fumaça” e seguia até a parada de Conrado. Com o tempo, o Dr. Masô passou a ser considerado membro da família Peralta; era chamado por tio pelos vários filhos de Peralta e sua esposa, Sra. Maria Adelaide. A primeira neta do casal chegou a ser embalada em seus braços. Tinha o nome de Laura, e ganhou o carinhoso apelido de Laurita. O destino faria com que, vinte anos depois, João Alberto Masô reaparecesse na fazenda e se casasse com Laurita.
Após a conclusão dos trabalhos da ferrovia, Masô foi convidado a seguir para o Espírito Santo, a serviço do Governo Federal, com a responsabilidade pela mediação judicial de grandes áreas de terras. A esta altura, Masô já era conhecido praticamente em todo o Brasil. Masô chegou até ao Acre, onde permaneceu treze longos e sofridos anos, no meio da selva quase impenetrável, sujeito a perigosos animais carnívoros, chegando a ficar trinta dias sem ver a luz do sol, tal a densidade da floresta. Haviam ainda índios que eram uma ameaça mortal. Com todas estas dificuldades realizou o “MAPA CARTOGRÁFICO DO ESTADO DO ACRE”, delimitando o território brasileiro em bases seguras.
Aos quarenta anos de idade, Masô volta ao Rio de Janeiro e reencontra em uma viagem de bonde a sua amiga Laura, filha primogênita do estimado Dr. Antônio Botelho Peralta, e mãe da pequenina Laurita que ele embalara em seu colo vinte anos antes. Convidado por Laura, o Dr. Masô seguiu para visitar a família tão amiga e rever os velhos trilhos e o famoso viaduto que contribuíra a cravar na Serra do Tinguá.
Na Fazenda Pantanal, Masô espantou-se: Laurita transformara-se naqueles vinte anos em uma fina, delicada, educada, recatada e linda moçoila e então derrubaram-se as amarras do coração ainda intacto do engenheiro.
Em poucos meses, ele com quarenta anos e ela com vinte e um casaram-se na Fazenda Pantanal, unindo as famílias Peralta e Masô por laços de consangüinidade que perduram até os dias de hoje em Miguel Pereira.
O casal adquiriu, loteou e administrou várias glebas de terra num grande bairro da cidade, hoje chamado de Vila Suíça, em homenagem ao engenheiro e a avenida Laurita, em homenagem à sua esposa.
Neste bairro e nesta avenida situa-se o Hotel Miguel Pereira, onde numa das glebas foi construído um sítio. Abraham Medina, proprietário das lojas “Rei da Voz” adquiriu posteriormente a propriedade e criou uma colônia de férias para seus funcionários, onde desfrutavam suas férias e finais de semana. Posteriormente, a colônia de férias foi adquirida e transformada em clube, com o nome de “Pousada Clube Miguel Pereira”. Finalmente na década de setenta foi transformado em Hotel e posteriormente em Fazenda, e assim permanece até os dias de hoje, com o orgulho de ter pertencido a um passado tão cheio de coragem, determinação e glória; ao mesmo tempo integra nos dias de hoje a Vila Suíça, um dos mais nobres bairros da cidade de Miguel Pereira, um local extremamente aprazível e aconchegante da região.